Você já parou para pensar que o secretariado pode ser mais? Ele pode ser muito mais do que a gente imagina, do que a mídia coloca e o senso comum estabelece.

Esse ser mais não está ligado diretamente, a um desenvolvimento somente de competências e habilidades, a cursos de pós-graduação ou a outros cursos de graduação feitos para complementar a formação inicial em Secretariado, está no processo de desconstrução social da visão negativa e pejorativa do que é ser secretário.

O senso comum por trás da profissão direciona para uma postura do mercado de trabalho que nos limita, limita-nos na nossa atuação, em nosso fazimento e no nosso senso de inovação. Com base no que esse mercado necessita e exige, as graduações e as formações vão perdendo um pouquinho do fio da meada que nos liga às Diretrizes Curriculares Nacionais – DCN e vão se atentando a suprir as necessidades do mercado, projetando e propiciando uma formação criativa, mas não criativa para a inovação, um criativo para a adaptação às necessidades momentâneas. Nesse aspecto, processos de reflexão sobre o fazer secretarial vão ficando em segundo plano a ponto de o profissional saber o que fazer, quando fazer, mas não saber explicar o porquê daquele fazimento, esse fazer começa a perder sentido por não ser uma prática teorizada e reflexiva.

O secretariado não é uma ciência, como eu já coloco nos textos do meu site, mas necessita de reflexões aprofundadas sobre suas práticas. Refletindo sobre as práticas, refletimos também sobre o que é ser secretário e secretária no cenário contemporâneo, nisso a essência profissional passa a assumir novas roupagens e tomar novos rumos, saímos do técnico pelo técnico e vamos para uma atuação muito mais humanizada, humanística, onde o técnico faz parte, mas não é o central, levando em consideração os avanços tecnológicos que têm facilitado nosso cotidiano dentro dos escritórios. Junto a isso, o profissional começa a tomar novas posturas, como de criação, mediação e resolução de conflitos. Efetivamos o que as DCNs propõem. Todavia, ainda assim não conseguimos ser vistos em nossa total excelência e isso se dá por conta dos preconceitos arraigados por trás da nomenclatura “secretária”.

O ser secretária/o ainda está muito estigmatizado em paradigmas negativos que direcionam para uma inferiorização e/ou para uma atuação somente coadjuvante, limitando-nos. Nesse sentido, proponho que busquemos nomenclaturas que nos permitam desconstruir esses preconceitos, legitimar a nossa excelência profissional e construir uma nova realidade para o secretariado, superando as barreiras de gênero, essa visão operacional de nossa atuação e os preconceitos estabelecidos no senso comum que influenciam nas contratações e no mundo do trabalho. Defendo então a ideia de que devemos assumir a nomenclatura “assessor(a) executivo(a)”.

Somos assessores executivos, faça uma pesquisa básica em vagas de emprego para assessor, veja as funções e o salário. São cargos com salários mais altos que os nossos, com atuação mais abrangente que a maior parte de nossas vagas, são vagas assexuadas (não distinguem os sexos) e com benefícios compatíveis ao exercício da profissão. Você verá que somos formados como assessores, mas por causa da nomenclatura adotada, somos limitados. Faça essa análise hoje mesmo, procura no Google vagas para secretária executiva e para assessora executiva. Você entenderá o que proponho.

Acredito que muita gente não concorde com essa minha ideia e isso é aceitável, até porque a mudança de nomenclatura exigiria da gente uma postura progressista, uma vez que enquanto a atuação secretarial me permite um certo conforto em algumas organizações, assumir a nomenclatura de assessor me exigirá o uso contínuo de todas as competências e habilidades que desenvolvi durante a formação profissional. Mas muitos benefícios são vistos: conseguiremos a efetivação da legitimação da excelência que já detemos, quebraremos alguns estigmas em relação às questões de gênero, uma vez que o exercício assessorial é assexuado para o senso comum, romperemos alguns paradigmas que diminuem a nossa atuação e alcançaremos maior reconhecimento profissional, com melhores salários e benefícios.

Temos 33 anos de luta com foco na valorização da profissão, uma lei que regulamenta e um código de ética profissional, mas ainda sofremos com os paradigmas por trás da palavra “secretária”. Precisamos repensar no foco de nossas lutas e unir esforços para a construção de uma nova realidade para o secretariado executivo ou assessoria executiva. Não podemos focar nossos próximos 33 anos em um mato que sabemos que não sai coelho.

Pense nisso!

Obs.: se você quer entender melhor essa questão da mudança de nomenclatura, acesse meu artigo intitulado “Secretariado X Assessoria: uma breve reflexão sobre a nomenclatura da profissão” disponível em www.jeffersonsampaio.com

Abraços fraternos e até a próxima.


JEFFERSON SAMPAIO

Secretário Executivo
Professor e Coordenador do Curso de Tecnologia em Secretariado do Instituto Federal de Brasília (IFB)