A velocidade das inovações tecnológicos no último século remoldou a sociedade. Em princípio buscando substituir o trabalho do corpo humano – com robôs operários, gruas e braços mecanizados e máquinas de produção de peças – a tecnologia atualmente também se expande para mimetizar os aspectos cognitivos do ser humano, na organização das informações e mesmo nas tomadas de decisão, através dos avanços da inteligência artificial. Mais e mais serviços tornam-se informatizados, como os sites de busca comparativa ou de resolução de problemas e dúvidas. Personas artificiais, como a Magalu, do Magazine Luiza, a Bia, do Bradesco, a Siri, da Apple, entre outras, tornam-se cada vez mais presentes em nosso dia-a-dia. No entanto, elas ainda estão longe de mimetizar o ser humano.
Se você já recebeu uma ligação de uma dessas personas artificiais, deve ter se dado conta de que existe uma tentativa de humanização: o programa te cumprimenta e tenta usar expressões para que você o sinta mais pessoal. Começa as frases com “Olha só” ou “Eu tô vendo aqui…” E, ainda assim, sabemos que é uma máquina, e não uma pessoa, já no “Alô”.
A razão para esse reconhecimento imediato tem a ver com a necessidade humana de interação, que nos deixou superdesenvolvidos para perceber movimentos e características humanas ao nos relacionarmos. É que o contato com o outro define nossa própria humanidade, fato esquecido pelos que buscam automatizar os relacionamentos sociais. O sujeito mais tímido ou introvertido ainda precisa de outros sujeitos para definir a própria realidade e tirá-lo da loucura e da depressão.
Ao mesmo tempo, as relações humanas são complexas e nos trazem ansiedade, fato que explica porque tais máquinas têm se tornado populares. É preferível reclamar com uma máquina, objeto e, portanto, objetificável, do que fazê-lo com um ser humano, cuja reação não consigo prever, e que pode me magoar.
Somos paradoxais: queremos conviver e evitamos conviver! Essa, na verdade, é uma característica positiva, pois nos faz mais flexíveis e, ao mesmo tempo, leva-nos a buscar melhorias continuamente. Em termos práticos, nosso desejo de evitar conflitos com outras pessoas faz com que queiramos a automatização de processos que gerem disputas, mas não deixamos de desejar contato humano que possa nos dar o conforto da vida em sociedade.
E qual é o impacto dessas características para as profissões que tem como ponto central as relações humanas, como é o caso do secretariado? Ela reforça a necessidade das pessoas que trabalham na área de se voltar para as competências de inteligência emocional e relacional. É verdade que parte do trabalho será automatizado, mas o que restará é o que há de mais humano em nossas relações, e é para isso que precisamos estar preparados.
Vamos conversar sobre esse assunto?
Augusto Dutra Galery
Coordenador Pós-Graduação Gestão Estratégica de Pessoas
Coordenador do Fecap+ Acolhimento e Permanência
Conselheiro de Carreira