STORYTELLING: O QUE É ISSO, AFINAL?
Claudius D’Artagnan C. Barros (*)
Storytelling é a arte de contar histórias.

É a capacidade de transmitir conteúdo através de narrativa envolvente e inspiradora, utilizando para isso a linguagem verbal (oral, ou escrita), como também a não verbal (expressões corporais), ou mesmo por imagens iconográficas, na aplicação de recursos visuais.

O storytelling está presente em nossas vidas de diversas formas, como por exemplo: na letra de uma música, na arte, ou até mesmo numa descontraída conversa na mesa de um bar.

Conforme afirmou o renomado educador, psicólogo e professor em Harvard Gerome Bruner (1915/2016) mentor da teoria – Revolução Cognitiva: “…um fato tem vinte vezes mais chance de ser lembrado quando associado a uma história”

Contar histórias é a mais antiga forma de inspirar e de transmitir conhecimento às pessoas, inclusive de uma geração a outra. E essa presença marcante da contação de histórias não acontece por acaso.

Nós, seres humanos, somos muito influenciados pelas histórias que ouvimos e lemos – elas são nosso modo predileto de apreender, interpretar fatos e criar imaginários. Aliás, nossa visão sobre o mundo é construída como um autêntico acervo de histórias sobre o que acontece ou o que imaginamos – acervo este que revela o que valorizamos, acreditamos e como compreendemos o mundo que habitamos.

Por que gostamos tanto de histórias, principalmente as bem contadas? Por sermos seres emocionais!

Nosso cérebro é imediatamente mobilizado por qualquer coisa que nos proporcione emoções! Por isso, ele sistematicamente faz a triagem das informações que nos chegam; e as aportam à nossa memória, organizando-as sob forma de um encadeamento.

As histórias estimulam nossos dois hemisférios cerebrais, incorporando e fundindo informação e emoção. Histórias e emoções, portanto, têm tudo a ver entre si. Ao capturar nossas emoções, as histórias nos ajudam a lidar com elas, em particular, as emoções que ainda não nos são tão familiares.

Por isso as crianças precisam muito do contato com variadas histórias, mais ainda quando em idade pré-escolar. Histórias modelam caráter e contribuem sobremaneira para consistentes princípios morais.

Histórias têm múltiplas utilidades: preparam-nos para o novo, mostrando-nos coisas que acontecem e com as quais ainda não havíamos atinado; dão-nos ideias novas sobre como manejar situações complexas que teremos de enfrentar;  apresentam-nos figuras de heróis que nos inspiram, assim como de vilões, cujas condutas precisamos perceber e evitar. Frequentemente nos motivam para a ação; fortalecem nossas convicções; ajudam-nos a persuadir outras pessoas sobre determinada coisa. Enfim, as histórias nos ajudam a gerenciar o cotidiano das nossas vidas e nos concita a buscar de forma permanente novos conhecimentos.

Por todas essas razões, as organizações já descobriram a sensacional ferramenta de trabalho que as histórias são – e as usam com grande frequência, em marketing, vendas, qualidade de vida no trabalho, desenvolvimento de equipes e distintos segmentos do contexto empresarial, aplicando inclusive as técnicas da jornada narrativa – ou, também conhecida como arco dramático, que conduz e formata a história de maneira a torna-la sedutora, consistente e inspirativa.

O storytelling tornou-se tão importante que o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts/USA), uma das instituições educacionais mais importantes em inovações nos negócios, estabeleceu em 2007 um núcleo especial para estudar e debater esse tema.

Trata-se do Convergence Culture Consortium (CCC), que reúne pesquisadores de várias partes do mundo. Em poucos anos de existência, o CCC já deu bons frutos: com base em suas sugestões, executivos influentes no cenário dos negócios passaram a criar roteiros para inúmeras histórias úteis que beneficiam sobremaneira a gestão e cultura das empresas, enfocando, entre outros temas:

serviços e produtos oferecidos aos clientes;
novas ideias que estão a caminho;
mudanças no entorno afetando as empresas e os negócios;
ações estratégicas para crescimento ou redução de custos;
ações da empresa, de impacto social ou ambiental;
táticas inteligentes para melhoria de desempenho;
lições aprendidas para os negócios;
ações inspiradoras de líderes e mentores;
e outros…

Um gestor inteligente sempre fica atento às histórias inspiradoras e narrativas valiosas que se referem ao seu contexto – tanto aquelas que estão sendo contadas, como as que não estão e precisam sê-lo.

Escritor, estudioso de mitos e grande admirador do conceituado psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl G. Jung – o norte-americano Joseph Campbell (falecido em 1987), criou um sensacional modelo de narrativa que pode ser aplicado a qualquer história, modelo este, que chamou de Jornada do Herói: uma série de passos muito bem concatenados entre si – que outro acadêmico, o alemão Klaus Krippendorff, simplificou, num artigo publicado há alguns anos.

A síntese que Krippendorff fez da Jornada do Herói algo que tem sido muito elogiada por profissionais do mundo dos negócios. Como é eficaz, mesmo sendo muito simples, ela merece ser conhecida por quem se interessa pela pratica do storytelling – de qualquer tipo, em qualquer contexto, a quem quer que seja. Por isso a reproduzo aqui, em seus quatro passos:

Apresente a situação atual (lugar, momento, pessoas, personagens).
Mostre um conflito ou problema que interrompe o fluxo normal dos acontecimentos na situação em questão.
Descreva o conflito e enfatize a atuação dos personagens para soluciona-lo.
Resolvido o conflito, revele o que a ação dos personagens fez mudar, tanto na situação inicial como nos próprios personagens.

E, pronto: você produziu uma história!

(*) Claudius D’Artagnan é ocupante da cadeira #20 da Academia de Letras de Lorena/SP, empresário, autor e membro da Academia Brasileira da Qualidade. (www.youtube.com.br/Dartabarros)